quarta-feira, 25 de maio de 2011

O mundo no qual queremos viver!


Enquanto a moda do secularismo ainda se apresenta como vigente em âmbitos da América do Sul, na Europa já começaram a estabelecer as aberturas e os desafios da pós-secularização. Constata-se a vigência de vivências e valores da religiosidade, não só no nível das pessoas mas também na vida social. Não se trata somente de um renascimento, senão também de uma realidade emergente.

Os poderes públicos poderiam sentir-se levados a responder o novo fenômeno como se tivessem feito segundo uma visão laicista ou iluminista, em cujo caso seriam incapazes de reconhecer e eventualmente responder um fenômeno com características inéditas. Tal foi uma das problemáticas debatidas na 14ª edição do Fórum 2000 em Praga, inaugurado pelo ex-presidente tcheco Václav Havel. Cinco dos 24 painéis nos quais participaram expertos provenientes de todos os continentes tiveram como objeto a questão da religião, no final da primeira década do século XXI.
Em suas palavras de abertura, Václav Havel disse que “a civilização global, que pela primeira vez é ateia, perdeu sua relação com o infinito e a eternidade. Por esse motivo prefere o lucro a curto e não a longo prazo. O que importa é que o investimento produza lucros em quinze anos. Não importa se a vida de nossos descendentes será afetada dentro de cem anos. No entanto, o aspecto mais perigoso desta civilização global e ateia é a soberba de quem é dirigido pela lógica da riqueza e deixa de respeitar por princípio a contribuição da natureza dos antepassados, e só a respeita como fonte potencial de lucro.

Com o culto ao lucro mensurável, o crescimento comprovado e a utilidade visível, desaparece o respeito pelo mistério e, junto com ele, a humilde reverência diante de tudo aquilo que nunca poderemos medir e conhecer, para não citar a questão do infinito e do eterno, que há pouco foram o horizonte mais importante de nossas ações”.

Não deixa de chamar a atenção que a temática tenha sido suscitada na República Tcheca, país cujas estatísticas de população apresentan um 65% de agnósticos. No entanto a Boêmia e a Morávia são territorios de fronteira, um coração que bate com força entre os dois pulmões da Europa Ocidental e Oriental.

Aqui se percebem com maior intensidade as tensões de uma transição que não acabou entre a longa experiência do totalitarismo e a renascente democracia, entre o processo de integração europeu e a vontade de não perder uma identidade própria, entre a herança do ateísmo de Estado e os primeiros lustros de uma liberdade religiosa que abre seu caminho persistentemente na população.

De:Pedro Gopeguy

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